Citibank: O Grande Roubo de Ouro

Por Larry Romanoff

Em suas campanhas publicitárias na China, o Citibank orgulha-se de ter sido estabelecido pela primeira vez na China, em 1902, testemunhando a sua devoção à China ao exibir uma foto da moeda emitida naquele país pelo National City Bank de Nova York. Mas depois, de 1902 até sua reentrada na China no final da década de 1980, “nada” aconteceu. Especificamente, não há informações sobre as atividades do Citi durante este período, além dos nomes de uma dúzia de cidades com filiais e uma declaração abafada de que o Citibank deixou a China “por causa da guerra”. Durante este período, temos apenas silêncio. Não só silêncio, mas uma estranha falta de documentação. A Internet, pelo menos nas partes que podem ser controladas, foram totalmente higienizadas. Segundo a comunicação mediática e os arquivos históricos de todo o mundo, o Citibank não existiu na China de 1902 até 1949, ou seja, desde o dia em que chegou até o dia em que partiu. Em breve saberemos o motivo.

No início da década de 1900, na maioria dos países, os bancos centrais dos governos não emitiam moeda, deixando essa tarefa para os vários bancos licenciados, cada um dos quais tinha permissão para emitir quantias ilimitadas de moeda, desde que tivesse garantia suficiente em ouro ou prata para corresponder ao volume de papel-moeda impresso. E em muitos países, o papel-moeda de muitos bancos circulava simultaneamente e era livremente intercambiável e aceite como dinheiro baseado na certeza de ser apoiado pelo metal precioso. Esta condição também era uma realidade na China e os bancos chineses e estrangeiros emitiam as suas versões de papel-moeda.

No caso do Citibank ou, mais correctamente, do National City Bank de Nova York, foi-lhe concedida permissão para abrir filiais em Shanghai e emitir papel-moeda fundamentado na exigência de estar apoiado pelo mesmo valor em metal precioso, estipulação a que o Citi obedecia. (1) Mas, depois, com a ausência de controlo devido à presença do Japão e à interferência perturbadora das potências ocidentais na China, o Citi tornou-se ambicioso e expandiu a sua rede de agências em quatorze cidades diferentes – sem permissão – e começou a emitir quantias ilimitadas de moeda em todas elas, mas sem essas quantias estarem apoiadas pelo mesmo valor em ouro ou prata. O Citi estava à beira da falência na época e não tinha mais activos para comprometer, então o banco começou, simplesmente, a imprimir e a emitir moeda chinesa sem qualquer apoio de metais preciosos, baseado na suposição de que seria aceite pela população. (2) Era um verdadeiro “suitcase banking”, visto que eram simplesmente bancos de fachada ilegais, sem activos e sem evidência de capital registado. Não consegui encontrar nenhum registo definitivo da quantidade total de moeda falsa emitida pelo Citi, mas certamente teria sido na ordem de dezenas de biliões de dólares, contribuindo fortemente para a inflação na China e produzindo enormes lucros criminosos para o banco.

Mas houve muito mais, dado que os proprietários do Citibank elaboram e levaram a cabo o que foi talvez o maior roubo fraudulento de toda a História da China, durante de 5.000 anos. O Citi não estava satisfeito com os lucros da venda de papel-moeda e, por esse motivo, concebeu um esquema para se apoderar do ouro das famílias chinesas, ouro que era mantido pela maioria dos cidadãos como sendo uma forma tradicional de poupança. O banco deu início a uma campanha amplamente promovida destinada a encorajar todos os chineses a trazer as suas barras de ouro para o Citibank e armazená-lo nos cofres desse mesmo banco, por razões de segurança. Todos os cidadãos receberiam certificados de ouro em papel como prova dos seus depósitos, certificados que poderiam ser resgatados a qualquer momento em ouro verdadeiro. (3) O governo chinês fez grandes esforços para desencorajar a participação dos cidadãos nesse programa, pois já tinha ficado bem claro que os estrangeiros não eram dignos de confiança.

Infelizmente, muitos chineses escolheram ignorar estes avisos e entregaram com confiança as suas barras de ouro ao National City Bank de Nova York para ficarem protegidas. Mas, um dia, quando os cofres estavam a transbordar e surgiu o aviso de perigo eminente, os nossos banqueiros mudaram de ideia. Transferiram todo o ouro que estava guardado nos seus cofres para embarcações militares dos EUA e enviaram tudo para casa, em Nova York. Depois o Citibank fechou as portas, disse “Adeus, China” e regressou ao seu país. De acordo com relatórios que vi, este ouro acabou por ser entregue ao FED dos EUA. O leitor deve recordar que, na década de 1970, o FED repentinamente e sem motivo aparente, decidiu fundir novamente todas as suas reservas de ouro e transformá-las em lingotes de vários formatos. Os funcionários do FED nunca foram capazes de explicar o motivo de um empreendimento tão caro e de longo alcance, mas um resultado óbvio seria destruir para sempre as marcas da origem de todas aquelas barras, evitando qualquer futura reivindicação de propriedade.

Curiosamente, os militares japoneses que ocupavam a cidade foram capazes de confirmar esta sequência de acontecimentos, que foi relatada pelo New York Times, tendo suspeitado do processo e iniciado o hábito de inspecionar os navios de guerra dos EUA antes de partirem de Shanghai e, em mais de um caso, dando ordens aos Americanos para descarregarem o ouro, parte dele aparentemente “pertencente” aos bancos Morgan e Chase. Mas parece que a maior parte conseguiu escapar, e mais uma vez o total estava, de certeza, na casa das dezenas de biliões de dólares – e isso aconteceu na década de 1940. Dados os casos comprovados e as estimativas moderadas daquilo que restou, é bastante claro que o Citibank deve aos cidadãos chineses muito mais do que todo o valor do capital atual desse banco. 

De acordo com relatos da época da evacuação do Citi, muitas pessoas trouxeram os seus certificados de ouro para resgatá-los na agência do banco, em Shanghai, mas foram impedidos pelos funcionários bancários e encontraram avisos a informar que todos os negócios do Citibank tinham sido liquidados e que os cidadãos deveriam consultar o Banco da China. Mais tarde, tornou-se visível que o Citi preparava a sua retirada da China, já há muito tempo,  não tendo deixado praticamente nenhuma prova de nada nos seus escritórios, tendo suprimido ou destruído todas as provas de todos os acontecimentos de mais de 40 anos da sua história criminosa na China. Também a partir do registo histórico, torna-se evidente que o Citibank estava em apuros durante este período, tendo perdido os seus activos em Cuba e na América do Sul, na Rússia após a revolução e nos Estados Unidos durante a depressão e, portanto, estava prestes a falir. Vários livros referiram este período, um publicado pela Universidade de Harvard (4) afirmando que o desenvolvimento milagroso do Citibank foi inteiramente devido à sua “rápida aquisição de activos” na China. Alguns autores documentaram os activos do Citi na China em cerca de 30 biliões de yuans no Norte da China e outros mais de 10 biliões no Sul, tendo esses ‘activos adquiridos’ sido transferidos para os EUA.

Naturalmente, há ainda hoje muitos chineses com toda a documentação histórica intacta que querem recuperar o seu ouro depositado no Citibank. Vários grupos de chineses contrataram advogados, quer na China, quer nos Estados Unidos, na tentativa de apresentar as suas acções judiciais devidamente documentadas a vários tribunais e, com a mesma naturalidade, o Citibank faz tudo ao seu alcance para evitar que tais reivindicações sejam ouvidas em qualquer tribunal, em qualquer lugar. Na China, a defesa do Citi é que esse banco funcionava como uma entidade legal diferente – o National City Bank de Nova York – e, portanto, não pode ser processado na China, uma vez que essa entidade já não existe. No entanto, a acção judicial seria admissível nos Estados Unidos, uma vez que o Citi é considerado descendente legal do banco anterior. Um grupo, em particular, apresentou todas as provas de apoio para documentar uma acção judicial contra o Citibank de 250 milhões de dólares. Finalmente, um tribunal de Nova York concordou admitir e ouvir o caso desses requerentes chineses, com a estranha estipulação de que cada um desses requisitantes teria de comparecer pessoalmente nos tribunais dos Estados Unidos, para prestar o seu testemunho. (6) (7) (8) (9)

Nenhum problema até agora. (10) Mas quando esses queixosos chineses compareceram nos consulados americanos na China para obter os vistos de viagem, o Departamento de Estado dos EUA recusou-se a aceitar qualquer um dos pedidos e negou todos os vistos de viagem aos EUA. Os americanos recusaram-se a oferecer qualquer explicação, mas nós realmente não precisamos de nenhuma, será que precisamos? Sem visto de viagem, sem comparecimento num tribunal dos EUA, sem julgamento, sem reembolso de biliões em ouro pelo Citibank. Quando os funcionários do Departamento de Estado dos EUA zombaram dessas pessoas chineses dizendo-lhes para “empreenderem as suas acções judiciais na China”, não foi útil nem apreciado, pois sabiam muito bem que o mesmo não poderia ser feito. Não há muito a fazer, mas não vamos ouvir mais histórias sobre a independência do poder judicial dos EUA, ou contos ideológicos sobre o Estado de Direito. Claro que, até os advogados americanos disseram que as acções do Consulado dos EUA em Shenyang (ao recusar os vistos) eram ilegais, mas na China os funcionários do Consulado têm imunidade diplomática e não podem ser acusados ou forçados a comparecer em tribunal.

Houve outras situações complicadas. Um requerente, Shao Lianhua, teve sérias dificuldades em encontrar um advogado americano que tomasse conta do seu caso, alegando que os advogados americanos trataram a sua situação com desprezo, declarando abertamente que não ajudariam nenhum chinês a extorquir dinheiro dos EUA. A dada altura, quando Shao estava hospedado num hotel de Los Angeles, dois polícias fortemente armados entraram no seu quarto e exigiram uma busca aos seus pertences – ilegal se acordo com a lei dos EUA, sem um mandado de busca ou com o consentimento expresso da vítima, pois não tinham nenhum deles. Contudo, a polícia deixou claro que estava à procura dos certificados de ouro de Shao, que ele apresentaria em tribunal no dia seguinte. Felizmente, Shao teve a precaução de esconder os certificados suficientemente bem para que a polícia não conseguisse encontrá-los. No entanto, igualmente incapaz de impedir a busca, Shao chamou o seu advogado e, após algumas discussões prolongadas, a polícia foi embora. Mas eles não eram polícias. A partir dos cartões e fotos, os advogados identificaram-nos como Agentes Secretos do Tesouro dos Estados Unidos. Podemos perguntar legitimamente por que motivo, o Tesouro dos Estados Unidos, agindo às ordens da Casa Branca, enviaria agentes armados para realizar uma busca ilegal com o único propósito de confiscar as provas essenciais da fraude do Citibank. 

Hoje, muitos chineses  ainda reclamam o seu ouro ao Citibank e, finalmente, estão a exigir cada vez mais que o Governo Central da China os ajude no seu esforço, talvez alterando as leis para se igualarem às dos EUA permitindo, assim, que o Citibank seja processado na China. (11) (12)


Larry Romanoff é consultor administrativo e empresário aposentado. Ocupou cargos executivos de responsabilidade em empresas de consultoria internacionais e foi proprietário de uma empresa internacional de importação e exportação. Professor visitante da Universidade Fudan de Xangai, apresentando estudos de casos de assuntos internacionais para as classes avançadas de MBA. Romanoff reside em Xangai e está, atualmente, escrevendo uma série de dez livros, sobre as relações da China com o Ocidente. Pode ser contactado por email: 2186604556@qq.com


Tradução: Ninhursag137
Fonte: www.bluemoonofshanghai.com


Notas:

(1)

(2)

(3)

(4) Citibank, 1812-1970 (Harvard Studies in Business History) December 31, 1985 by Harold van B. Cleveland, Thomas F. Huertas

(6)

(7)

(8)

(9)

(10)

(11) http://news.cri.cn/gb/41/2004/03/31/107@114806.htm

(12) http://www.szhgh.com/Article/opinion/zatan/201401/42389.html

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3 thoughts on “Citibank: O Grande Roubo de Ouro

  1. Como sempre a fábula da independência do sistema judicial dos E.U.A. ! O dinheiro sempre fala mais alto ! Ladrões muito inteligentes e sagazes a turma dos bancos.

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